Um Natal Emocinante



Padre Lauro já há vários anos tentava realizar um sonho que sempre tivera: Realizar um natal diferente. Um natal vivo! Um natal que ficasse gravado na mente de seus paroquianos. Sempre tentava, mas alguma coisa sempre saia errada e ele desanimava. Naquele ano finalmente parecia que as coisas caminhavam para um desfecho feliz. Os jovens e adolescentes estavam mais maleáveis, mais participativos levando mais a sério as reuniões para debaterem o assunto. Foram feitos reuniões com os Grupos de Casais, com o pessoal da Renovação, Grupo de Jovens... Todos pareciam concordar com as idéias do Padre Lauro.

Ficou estabelecido que os carpinteiros e pedreiros iam se ocupar da parte de construção dos cenários, que seriam enfeitados pelas senhoras. A sonorização ficaria a cargo dos operadores e locutores das emissoras existentes na cidade, que estavam presentes nas reuniões. Tudo certo! Depois a parte artística! A escolha dos que iam desempenhar os personagens da peça. (ficou estabelecido de comum acordo que se chamaria "O nascimento do menino Deus")

O Aníbal seria um dos anjos, o Zeca do posto seria o José e Maria seria a Cidinha, que por sinal era a noiva do Zeca. Vários outros personagens atuariam como figurantes, porém um dos estalajadeiros tinha que manter um diálogo com José na parte mais importante da peça. Ele teria que responder a José: “Não tenho lugar em minha estalagem, pois estou esperando gente muito importante”. (Para esse papel fora escolhido o senhor Oscar, por possuir, na opinião do padre Lauro, um porte físico igual ao sonhado pelo autor da peça.) Oscar relutou muito. Foi preciso um papo muito firme do padre para convencê-lo a aceitar o desafio.

Enfim, estava tudo acertado. Agora era partir para os ensaios que durariam dois meses, pois estavam em outubro.

Padre Lauro não poupou divulgação. Anunciou nas emissoras de Rádio, nos Canais de televisão, jornais e avisou seus colegas de outras Paróquias. Queria um natal diferente naquele ano. Os ensaios foram aperfeiçoando cada vez mais os personagens, até que chegou o grande dia. A peça ia ser encenada. O sonho de Padre Lauro teria um final feliz.

O palco que estava armado em frente a Matriz, a qual possuía amplo espaço vago para centenas de pessoas, estava maravilhosamente enfeitado. As pessoas já começavam a chegar para assistir a missa, que seria celebrada mais cedo para depois assistirem a encenação tão comentada em toda a região.

Finalmente a peça ia ser iniciada. Padre Lauro não cabia em si de contentamento, pois há muito tempo ele sonhava com aquele momento.

Inicia-se o drama: Entra em cena José, Maria e não podia faltar o jumentinho, escolhido a capricho para participar do que seria o trajeto feito pelo casal de Nazaré até Belém. Tudo estava transcorrendo dentro do previsto: O movimento das estalagens, os figurantes em grande número, vestidos como na época. A peregrinação de José buscando acomodação nas estalagens... Até que chegou o ponto que seria o momento culminante da história: Quando José que era o nosso famoso Zeca ia dialogar com o estalajadeiro, o senhor Oscar. José bateu à porta e logo aparece o proprietário da estalagem. Era um momento de emoção na peça. Milhares de olhos fixos no palco. Padre Lauro sentiu pulsar mais forte o seu coração. O diálogo era emocionante. José olhando para o estalajadeiro com os olhos suplicantes disse:

__ Senhor precisamos de um lugar em sua estalagem. Minha esposa já sente as dores do parto. Já andamos por tudo e nada encontramos. Ajuda-nos senhor!

O estalajadeiro, nosso amigo Oscar olhou para o Zeca que personificava a figura de José, mas não viu o Zeca que ele conhecia, e sim uma figura de olhar sofrido, suplicante, como deve ter acontecido há cerca de dois mil anos atrás. Olhou para Maria que era a Cidinha, mas rosto dela estava transformado: Parecia que ela transmitia a dor, a expectativa, parecendo já saber que a resposta ia ser negativa. Olhou para seu ventre, mas não via ali um disfarce com travesseiros e sim, algo que parecia irradiar Luz. Tentou articular algumas palavras e não conseguiu. A ansiedade do público era imensa. Todos queriam ouvir a resposta. Padre Lauro chegou a se levantar e dizer baixinho: Vai Oscar! Zeca olhava para Oscar com muita apreensão incentivando-o com o olhar, até que não conseguindo se dominar, Oscar rompeu em prantos! Olhando para o público disse com voz embargada pela emoção:

__ Se quiserem podem me atirar ovos, tomates, até pedras, mas eu não consigo dizer as palavras que foram ensaiadas. É difícil demais! Mesmo sabendo que é apenas uma dramatização! Eu não consigo dizer "Não" a Jesus!

O suspense foi geral! De quando em quando se ouviam alguns soluços, depois muitos e no final quase todos choravam! Por fim alguém se atreveu a bater palmas e foi acompanhado por toda a multidão.

A peça terminou com uma outra pessoa que se ofereceu para fazer o papel de Oscar, dono de uma Estalagem. 

Hoje passados muitos anos... Já partiram Padre Lauro, muitas das pessoas que participaram da peça, incluindo Oscar, mas muitos ainda se lembram do episódio, mas não riem, antes se emocionam e comentam: O velho Oscar não conseguiu dizer "Não" a Jesus, a Nossa Senhora e a São José.





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Por: Luiz Gonzaga Silva

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