Maior tragédia da história da Praia de Camboriú




No ano de 1921, no dia 21 de outubro aconteceu a maior tragédia da história da Praia de Camboriú. O mês inteiro estava de chuva e os pescadores não tinham saído para pescar. o Jornal O INTRANSIGENTE, tratou assim a tragédia: 



- “Um grande tufão - A pescaria da morte: Cinco homens victimas do dever”. 

Num relato minucioso, emocionante, Hermínio Vieira, o Jornalista, detalhou a tragédia, com farta informação factual, visitando a família dos sobreviventes e acompanhando os sepultamento das vítimas. Foi a maior tragédia que já se abateu sobre a nossa cidade. 

Quando sofremos a tragédia do fenômeno “Catarina”, muito a imprensa alardeou que foi o primeiro ciclone sub-tropical. Este que ora me reporto, foi inúmeras vezes maior. 

Quando estavam todos em alto mar, cremos que por volta das 7 ou 8 horas da manhã, subiu um “rolo” de nuvem negra de modo tão violento e rápido que não deu tempo sequer de recolher o espinhel. 

A enorme massa de nuvem negra, deixou o dia tão escuro, que os pescadores sequer se enxergavam dentro da embarcação, nem sabiam em que direção estavam. O vento soprou com uma fúria nunca antes vista e o mar levantou ondas que eles jamais poderia imaginar. 



Este tufão passou numa faixa muito estreita, pegando em cheio só a extensão entre a Barra e a Praia Brava. 

Na Praia do Buraco, a tempestade foi muito violenta. Ali estavam pescando na mesma canoa, meu avô Manoel Germano, Zé Nicolau e o menino “Mané Sima”. 



O Intransigente entrevistou estes dois sobreviventes. Conta Manoel Germano para o Jornalista que conseguiu escapar porque onde ele estava, dava para enxergar o farol de Cabeçudas e foi para lá que ele rumou e conseguiu a muito custo, vencer o tenebroso mar. 

Ana Corrêa Fuchs no seu livro “Sete Minutos”, conta que em virtude disso, Mané Germano seu pai, fez duas promessas: a primeira de ir todos os anos à cidade de Iguape, pagar promessa ao Bom Jesus desta cidade. 

A segunda, por ter sido recepcionado na praia de Cabeçudas por diversos cachorros, que lhe pareceram ser solidários, ele promoveu uma grandiosa festa para todos os cachorros da vizinhança.yt 

O jornalista relata a tristeza que se abateu sobre cada família. Na residência de Cesino Martins na Barra, arrimo da família, deixou seu velho pai viúvo, com três irmãs, sendo uma delas aleijada. 

No Canto da Praia, em casa de Manoel Felisbino, esse sobrevivente revelou a incrível façanha de como escapou dessa tragédia. De cama e como muitas dores, revela que saiu para pescar com João Miguel e Laudelino Ponciano. João Miguel lhe revelou minutos antes de embarcar que estava em jejum com muita fome, pois não tinha nada mais para comer em casa e que, sua sorte, dependeria do sucesso dessa pescaria. João Miguel não sobreviveu em virtude da fraqueza física, por causa da fome que sentia. 

Conta Laudelino que as ondas pareciam montanhas e que João Miguel enfraquecido ameaçava se jogar ao mar. Não obstante seus brados de ânimo, João Miguel jogou-se no fundo da canoa e desistiu de lutar. Em seguida um vagalhão virou a canoa, matando seus dois companheiros. Mesmo assim nadou até a praia. Quando o mar estava para carregá-lo de volta, dois meninos juntaram as forças e o puxaram para terra, deixando-o moribundo nas areias da praia. 

Depois foi visitar a casa do preto Ponciano, pai de Laudelino e sogro de João Miguel, onde estavam sendo velados. 

Num casebre de palha em ruínas, com uma mesa e dois bancos, era todo o mobiliário da casa. A viúva amamentando um filho no peito e rodeada de outros pequenos, chorava compulsivamente, e não teve a mínima condição de atendê-los. Ponciano que sofria de “desarranjo mental”, ora ria, ora chorava. 



SORTE E HEROÍSMO NO CANTO DA PRAIA. 

“Uma pequena praia escarpada, tomada em curva, tendo como leito um expesso (sic) rochedo que se estende para fora em pyramide de abrolhos offerecendo ao visitante um aspecto fúnebre de um cemitério, povoada de catacumbas deformada pelo tempo”. 

É assim que o jornalista descreve a nossa bela Prainha. Ali o mar jogou duas embarcações, a “Andorinha” de Cesino Martins e a canoa de Felisbino, junto com remos, velas e demais apetrechos de pesca. 

Nesse dia também saíram para pescar Raul Rebello e Leopoldino Pereira. Quando pressentiram o perigo rumaram em direção ao Canto da Praia. Embora perderam a vela para o vento e deixando as redes para trás, remavam em direção ao Canto da Praia, quando encontraram em situação pior que eles, dois pescadores agarrados à uma canoa cheia de água. 

Conta Raul que ao chegar mais perto reconheceu Paulo Faustino e Nicolau Maxixe. Nicolau sem forças queria se deixar morrer, enquanto que Paulo Faustino lutava para salvá-lo juntando suas últimas forças. 

Raul e Leopoldino ofereceram carona, mas Paulo insistiu que tentassem salvar o Maxixe, senão morreriam os quatro. 

-Ou salvamos os quatros ou morremos todos! – Disse Raul. 

Mal embarcaram e uma onda virou a canoa com os quatros. 

Quando vieram à tona, todos estavam bem, menos o maxixe que parecia morto. Raul Rebelo, embora sendo um homem de compleição fraca, lutava para salvar Nicolau Maxixe. Num determinado momento ele afundou e segurou Raul pelas pernas. Raul lutava para se desvencilhar do moribundo quando deparou-se com uma moça ao seu lado. Era Eugênia, filha de dona Marcolina Claudina da Silva que vendo a luta de Raul, heroicamente amarrou-se numa corda e foi ao encontro dos dois, ajudando Raul a salvar Maxixe da morte certa. Infelizmente o destino, mais tarde, ceifou a vida do Nicolau, quase no mesmo lugar, só que em terra, nas areias da praia, quando se disputava uma corrida de cavalos. Ele foi atropelado por um deles, falecendo em seguida.

Por: Isaque De Borba Corrêa

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